Mastro, colina, céu
por JOSÉ MANUEL FERNANDES
UM PONTO DE PARTIDA
A modulação a partir de um objecto simples, utilizado no quotidiano da cidade: o mastro, o pau de bandeira metálico, pintado de branco.
A associação de muitos destes elementos em sequência linear, valorizando a sua conotação – abstracta, purificada – com ideias de percurso, de movimento ao longo da(s) rua(s).
A LIGAÇÃO AO TERRITÓRIO
Um sulco, um corte em longitude, no terreno declivoso: num dorso, o assentamento dos mastros, vertical, partindo da oliveira ali deixada, quase esquecida.
Ao longe, lê-se como uma textura, um riscado sobre a terra castanha, inscrição depurada de uma frase longa, contínua, geométrica, urbana.
E por cima de tudo, ainda a torre circular da velha construção, e o palácio de justiça de mármore – afloramentos escassos da cidade de colinas e fragmentos que Lisboa é.
DO CÉU E DOS LONGES
Sobre a colina dos mastros, um avião procura a pista. Árvore, linhas verticais, terra e talude – apontando para o alto, para outra dimensão, mais ampla.
E ao fundo, na neblina do trânsito e também do Vale de Alcântara – a ponte – o Aqueduto das Águas Livres, arcos em sequência, pilares igualmente verticais.
Quando entramos na cidade, por este lado, ansiamos pela curva depois da qual se vêem os mastros.
Surgem-nos então, repentinos, de perfil, e desdobram-se em seguida, aparentemente infinitos, até ao fim.
Fevereiro 1994
In Carlos Nogueira, permanência da água, Lisboa, Dezembro 1994, p. 35.