Para duendes brancos
por MANUEL GRAÇA DIAS
(…)
DUENDES
Andamos, escolhemos, vamos.
Apossa-se de nós um desejo total que bebemos de «irresistência».
Lemos, afinal contra o mundo, uma série de sinais gastos pelo tempo; chamamo-los outra vez; são troços simples, de honrada matéria significada, de honrada matéria significada ou mecanismos já tão distantes da hora original que valem tudo, outra vez.
Estuporada ideia do «serviço», do arregimento, da função.
«Serve para quê?» – para nos dar memória, podíamos dizer.
A poesia é a única que, para nada nos servindo, nos serve de explicação; só ela ousa construir em paus de giz de luz, o luxo da relva autêntica dos duendes brancos.
Depois, há os movimentos sociais que não devemos desprezar, onde nascem também, por vezes, momentos veros.
Outubro 1994
In Carlos Nogueira, permanência da água, Lisboa, Dezembro 1994, p. 36.