Carlos Nogueira.
por LUISA SOARES DE OLIVEIRA
Carlos Nogueira, embora escultor, possui uma obra onde as fronteiras entre a arquitectura e a disciplina da escultura são constantemente postas em questão. As peças apresentadas nesta exposição integram o conceito de instalação de uma forma alargada, visto que incluem o espaço exterior na própria obra: uma escultura feita de vidros espelhados reflecte não só o espaço da sala como os visitantes e a paisagem urbana e rural que se avista por uma janela. Um desenho, formado por dois módulos, completa o seu projecto: sobre uma superfície espessa, cortantes de metal criam sombras subtis sobre as espessuras dadas pelo trabalho da tinta branca.
Na realidade, a peça de Carlos Nogueira, como toda a obra do autor, possui também uma leitura mais poética que adensa o fascínio que exerce sobre nós. Há como que um apelo à contemplação da obra, ao deixar-se ficar imerso na observação da passagem do tempo que é sempre indicada pela mudança da luz ou pelos quadros sucessivos que os visitantes vão criando sobre a paisagem reflectida. O espaço exterior torna-se interior, embora a sua volatilidade negue a apropriação possível pelo visitante. A reflexão dobra-se também de interioridade, reforçando uma espécie de meta-pensamento: pensar é exteriorizar o objecto sobre que se pensa, é possuir a capacidade de o ver como estranho, forasteiro, e tentar captá-lo na sua plenitude.
In Home Sweet Home, Centro de Arte S. João da Madeira,
S. João da Madeira, 2006.